27 novembro 2017

365 dias, um ano, um fim e um recomeço.

Leia ouvindo - Without You
Hoje em uma das minhas típicas faxinas noturnas encontrei o relógio que me deste no dia dos namorados em 2015, dentro daquela caixa em mdf de coração customizada por você, ele está quebrado, quebrou pouco mais de um mês depois de tudo, pensei em consertar, mas não sei exatamente o porque o não fiz. Hoje ele tá parado, a bateria deve ter acabado. Ele assim quebrado e parado em minhas mãos me fez vir aqui escrever, hoje é o último domingo do mês de novembro, exatamente o ‘mesmo’ domingo, apenas com a pequena diferença que hoje ainda é 26 e não 27 de novembro [mas provavelmente quando acabar de escrever isso aqui, será].
Amanhã fazem exatamente 365 dias daquele domingo, daquela ligação e do fim, um ano passou. E que ano!
O domingo, o nosso dia favorito, foi o escolhido para encerrar o ciclo de 1192 dias de nós, 1192 dias desde o primeiro 23. Se eu fechar os olhos agora, eu consigo sentir a taquicardia, a sensação de morte, a falta de fôlego, a dificuldade de respirar e as lágrimas que parecia ser ácidas, queimavam cada parte do meu rosto enquanto escorriam, consigo até sentir o cheiro daquele final de tarde. Mas não lembro (isso é raro, não lembrar) ter sentido algo parecido na vida, nem da primeira vez que você partiu, daquela vez eu estava “preparada”, eu tinha me matado um pouquinho a cada dia, então já estava anestesiada de dor, mas naquele domingo não, aquela ligação me pegou de surpresa, e um buraco se abriu e eu cai em queda livre e sem saber como sairia viva dali. Foi difícil e demorado até chegar o chão.
E não foi fácil, não foi fácil reconstruir cada átomo do meu corpo, não foi fácil permanecer nessa cidade onde tudo e qualquer coisa tinha uma lembrança nossa, não foi nada fácil vê minha mãe chorando escondida e eu não ter força alguma para abraçá-la e dizer que tudo ia ficar bem, porque eu estava destruída, nem eu mesma sabia se tudo iria ficar bem. Como foi difícil encarar minha vó frágil, doente e perguntando pelo menino dela.
Eu mal falava sobre isso, as pessoas foram descobrindo por conta própria, eu só fiz questão de contar para minha mãe, que como sua fã nº 1, no primeiro momento ainda cogitou que fosse culpa minha, depois me fez um chá de camomila, me deu um calmante e ficou velando meu sono. Para meu pai, que sempre muito sensato, “é assim mesmo, vida que segue. Siga seu caminho,” e para meu irmão, que do jeito super torto dele tentou me consolar. Liguei pra uma amiga, não consegui falar nada, só chorei, chorei muito, e deixei ela em pânico, depois mandei o motivo do choro via wpp e para outra amiga também, a cupido, achei que ela deveria saber em primeira mão.
Todo dia era uma guerra diferente, desde a hora que eu acordava, até a hora que o cansaço (e o remédio) me ganhava. Eu não desistir nenhum dia, eu levantei todos, coloquei a minha melhor versão pra cada dia e fui bombardeada em cada um deles, todo dia era uma chuva de perguntas inconvenientes, versões mirabolantes e torcida para uma reconciliação. As pessoas, a maioria delas, foram muito cruéis comigo. Poucas pessoas souberam lidar comigo nessa fase, me deram a dose certa de  colo, espaço e silêncio. Eu sou grata por cada uma delas. Não foram dias fáceis, tive a sensação de uma pessoa que sofreu um acidente grave e ficou hospitalizada por muito tempo e depois disso teve de reaprender a fazer tudo novamente, andar, comer, sorrir, viver.
Eu não lembro qual foi exatamente o dia, mas teve um dia específico, que eu levantei da rede (é, eu passei algum tempo dormindo de rede, não me pergunte o motivo) olhei pro meu espelho, e disse que eu era exatamente tudo o que você tinha me dito naquela ligação, eu era forte, eu era uma mulher incrível, e eu ia ficar bem. E desde então, cada dia eu conseguia ir um pouquinho além, enfrentar as batalhas e as pessoas chatas, enfrentar meu medo de mim. E foi então que eu percebi que eu era mesmo forte, eu estava me saindo bem, e não era ninguém que me dizia isso, era eu que sentia, fiz tudo do meu jeito, indo na maioria das vezes contra o que todos julgavam que era o certo pra mim, eu não poderia dar a ninguém esse poder novamente, a minha vida tinha de ser unicamente minha. Eu não ia anular mais nada em mim por ninguém, e foi por conta disso que cada dia acordava mais forte, mais plena e mais feliz comigo, cada dia eu me sentia mais livre, mais leve e mais luz. Cada dia que passava eu era mais eu.
E apesar de tudo, de toda dor, eu consegui ressignificar tudo que vivemos nos mais de mil dias partilhados. Apesar de ter me feito sentir a dor mais forte que já havia sentido, você também foi a melhor coisa que já me aconteceu.
Nem que eu me esforçasse bastante eu conseguiria expressar o que tu é/foi/será na minha vida. Sei que não acredita em um Deus, mas se existe alguma forma sobrenatural nesse universo, ela vez que o meu caminho cruzasse com o teu. Desde o primeiro instante que te vi na janela daquele ônibus, eu senti a necessidade/obrigação/missão de cuidar/amar você.
E minha intuição nunca erra, né? Pois é, você foi o amor mais lindo, puro e surreal já experienciado por mim. Eu te amei como mulher, como irmã, como amiga e como mãe, é como mãe. Talvez tu tenha sido o meu primeiro filho, é meio bizarro a comparação, mas é totalmente real.  Talvez a maneira que te amei, seja bem parecida como a maneira que uma mãe ama um filho, onde os esforços, medos, força não são medidos, eu percebi que fui a pessoa mais forte e capaz quando se tratava de ti, eu persegui um ônibus com minha moto, só pra te dar um travesseiro, só para que você viajasse um pouco mais confortável. E foram tantas coisas, tantas loucuras, e tu jamais me pediste nada, mas eu precisava fazer, eu sempre precisei cuidar para que tua vida ficasse um pouco mais confortável. Eu me anulei, eu me enterrei, e morri por amor a você.
Mas não pense que vejo isso de forma negativa, como já falei, eu consegui ressignificar tudo isso, foi essencial para mim viver exatamente tudo isso, da maneira que vivemos,  eu precisava disso para ter a consciência que tenho sobre quem eu sou hoje.
Você é a pessoa mais importante que cruzou meu caminho, por foi através de você, que eu finalmente me encontrei, me reconheci e me amei. Se existe algum propósito nisso tudo, eu sei que o meu foi cumprido, eu cumpri essa missão.
O Amor mais inexplicável que alguém possa viver, nós vivemos. Nosso  encontro transcendeu o plano físico, e mesmo que eu tente ou você tente nunca saberemos expressar, contar, nem dimensionar essa ligação, nós sabemos, nós a sentimos e sentiremos até o fim.
Obrigada por ter cruzado meu caminho, eu precisava viver exatamente o que vivemos para ser quem sou hoje, e eu não ouso dizer que não dermos certos, nós fomos o casal mais lindo que eu já vi até hoje, mas que tivemos que seguir outros caminhos, pois nossa missão como casal findou.
Mas como amigos, parceiros, ah, essa vai ser até o último suspiro.
Obrigada, obrigada e obrigada! Espero que hoje você esteja com o coração tão cheio de gratidão e força como eu.
Hoje, um ano depois, me sinto forte, me sinto eu e me sinto pronta.
Acho que finalmente eu floresci!

P.S: ainda estou aqui segurando sua mão.

Te amo, coisinha!