23 fevereiro 2011

É hora de adubar


Não sei se foi por preguiça, por condicionamento, pela dificuldade de estarmos plenamente atentos no instante de cada ação. O fato é que a planta havia morrido há semanas e durante todo aquele tempo eu continuei a regá-la, como se estivesse ali. O vaso cheio de terra, vazio de verde, permanecia no mesmo lugar, entre os outros, como se nada houvesse acontecido. Toda vez que eu repetia o movimento, eu me dava conta da estranheza do meu gesto, mas acabava me entretendo com outra coisa e adiava mais uma vez a retirada do vaso.
Outra hipótese é o embaraço que às vezes temos para reconhecer a morte das coisas. Para aceitar que o tempo delas acabou, embora possa ser tão óbvio como um vaso sem planta. A começar pelos padrões de comportamento que já repetimos com desconforto porque em nada se parecem com as pessoas que somos agora. Talvez evitemos retirá-las do nosso contexto porque a retirada costuma afetar a estrutura aparentemente organizada do conjunto, como acontece no jogo de pega-varetas. A maioria de nós aprendeu a não mexer com o que está quieto, mesmo quando essa quietude significa que não corre mais nenhum vento de vida ali.
Nossos gestos de desapego são capazes de criar espaço para o novo. Minha mãe plantou outra muda de planta naquele vaso. A última vez que vi, estava florida. 

 AnaJácomo


Sei que reguei esse vaso com essa plantinha murcha e sem vida por muito tempo. Continuei pela beleza e felicidade que um dia aquela plantinha tanto transmitiu. Achei que aquela beleza seria infinita, mais lembrei que plantas raras geralmente demoram muito pra florescer, depois que florescem exalam uma beleza inigualável e essa beleza é tão intensa que não resisti por muito tempo e logo ela murcha e morre. Aprendi que posso regar - la o quanto quiser e ela não voltará a ser verde e linda como era, porque ela morreu. 
O que posso fazer apenas é lembrar as vezes que ela iluminou meu olhar e me fez sorrir exageradamente.
Agora é hora de adubar a terra e deixá-la pronta para uma nova semente seja semeada ali. 
Quem sabe da mesma espécie ou outra espécie mais comum dessa vez.
Vou tratar de cuidar disso. E fazer florescer mais uma vez algo bonito nesse vaso.



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