08 janeiro 2013

Eu te proíbo de me querer, de dizer que me ama ainda



Nunca fui atrás de você, tampouco procurei saber. Por uma única e elementar razão: esquecer você, ou melhor, aprender a conviver com o céu, o sol, o mar,  foi a coisa mais difícil que já fiz na vida. Então fica fácil simplesmente não me permitir procurar ou saber de você. A força dessa resistência é meu prêmio por superar a abstinência, como jamais vi um humano fazer. Fiquei boa nisso. Se amar alguém ensandecidamente e não ousar pensar nesta pessoa por mais de dois minutos fosse esporte olímpico, eu subiria no lugar mais vertiginoso do pódio. Lá de cima, diante dos microfones de imprensa, eu agradeceria afoita e suada às intermináveis festas estranhas, os homens de uma noite só e cada gole etílico que tomava conta do espaço deixado pelo mar de lágrimas do primeiro ao sétimo dia. Foram imprescindíveis, logo seria justo repartir a alegria mais triste que já conheci.
Hoje sou uma mulher recomeçada, menos verde, mais bem vestida, mais ciente das minhas atribuições de mulher/namorada/amante, mais disposta a sorrir, mais receptiva ao toque, menos crente de que os outros não passam somente de "os outros" e, pra ser sincera, só um pouquinho infeliz. Então no meio de tudo, desta programação de infinitos passos, vem você abrupto feito um frisbe no maxilar na beira da praia, sem dar tempo de notar de onde veio:

- Ainda te amo.

Bem agora. Bem no mês que eu parecia estar conseguindo colocar o mundo todo de cabeça pra cima novamente, com o toque mental de um super-homem. Justo quando eu terminava de unhar as casquinhas nojentas das feridas que você mesmo abriu. Logo quando eu havia conseguido aceitar a ideia de retornar a lugares públicos que me trouxeram alegria, ar puro, paixão - entenda, precisei anular neste um ano e meio, como um alcoolista que não pode se aproximar de uma trufa de rum que volta a beber.
Pois eu te proíbo de me querer, de dizer que me ama ainda, de ser meu chão, de pensar em mim, de me oferecer mais. Tenho mérito a esse direito. Minha resiliência segue em franca inclinação, meu universo segue em franca expansão, meu vagar em busca de um novo amor continua de pé. Se hoje eu não fosse prisioneiro da liberdade, te devolveria:

- Ainda te amo.

Mas não possuo caradura o suficiente para jogar no lixo todo tempo que levei pra superar o baque da sua ausência. Sem garantias, simplesmente já não dá mais pra acreditar no amor.

Gabito Nunes (Adaptado) 

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